Ao longo do século XIX, foram realizadas inúmeras expedições de naturalistas europeus para estudar o material fossilífero da Bacia do Araripe. Durante o século XX, os estudos de paleontologia na região foram intensificados e começaram a mostrar a real grandeza da biodiversidade preservada nas rochas da região.
Finalmente, nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, os estudos científicos revelaram a importância deste patrimônio de relevância internacional, fortalecendo os movimentos de proteção aos principais sítios de interesse paleontológico. Na Bacia do Araripe, os calcários laminados do membro Crato possuem diversificados e abundantes registros de fauna e flora muito bem preservados.
O ambiente que existia há cerca de 110 milhões de anos, e que permitiu a fossilização deste material, corresponde a um lago caracterizado por águas calmas, com alta taxa de precipitação de carbonatos e sais, e com pouco oxigênio. Tais características propiciaram a fossilização dos restos de animais e vegetais que se depositaram no fundo do lago juntamente com estes sedimentos que, mais tarde, originaram as lâminas de calcário, conhecidas localmente como “Pedra Cariri”.
Atualmente são conhecidas no membro Crato mais de 50 espécies de plantas, centenas de espécies de insetos, camarões, escorpiões, aranhas, moluscos, peixes, tartarugas, crocodilianos, lagartos, pterossauros e aves, reflexo da exuberante fauna que existia neste período. Dentro desta diversidade de fósseis, os mais abundantes são os insetos, os peixes (principalmente o gênero Dastilbe) e os vegetais.
Também merecem especial destaque os insetos e a flora, que representaram um registro muito significativo para o conhecimento da evolução das angiospermas (plantas com flores). O membro Ipubi da Bacia do Araripe, além de apresentar os importantes depósitos de gipsita, também preservou fósseis de peixes, microcrustáceos, plantas, pterossauros, e até dinossauros, em suas rochas de coloração escura.
Essa coloração está associada à presença de material combustível, o que permitiu, no passado, estas rochas serem utilizadas como fonte de energia para os engenhos de cana-de-açúcar. O membro Romualdo da Bacia do Araripe registra também em seus sedimentos os mais perfeitos fósseis do planeta. É o caso das regionalmente conhecidas “pedras de peixe”, uma vez que a maioria dos fósseis é de peixes.
A perfeição destes fósseis está associada ao fato de que estes preservam exatamente o formato do animal/vegetal fossilizado, revelando não só a forma tridimensional, como também os tecidos moles (pele, músculos, vasos sanguíneos, variação de coloração, etc.) e os restos de conteúdo estomacal e parasitas. Nesse membro, 22 espécies de peixes ósseos e cartilaginosos (tubarões e raias) deixaram seus restos muito bem preservados, assim como os famosos pterossauros, répteis voadores que se extinguiram junto com os dinossauros e que deixaram um amplo registro nessas rochas.
Atualmente, são conhecidas cerca de 50 espécies de pterossauros descritas em todo o mundo, sendo que 23 destas espécies foram identificadas na Bacia do Araripe. Quatro espécies de dinossauros também estão representados no membro Romualdo. Dinossauros do grupo dos raptores, como o Santanaraptor placidus, viveram na Bacia do Araripe há aproximadamente 30 milhões de anos antes dos seus ancestrais imortalizados pelo cinema, como o Velociraptor e o Tiranossauro.
Outras famílias de dinossauros de grandes predadores terrestres que viviam nesta região também deixaram dois representantes fósseis nessa formação: Irritator challengeri e o Angaturama limai. Além desses, também deixou restos fossilizados o pequeno predador Compsongnathidae Mirischia assymetrica.
Finalmente, nas rochas formadas em ambiente sob influência marinha, foram identificados fósseis de seis espécies de tartarugas e duas espécies de crocodilianos.
A certeza que águas marinhas estiveram no meio do nordeste do Brasil, mais precisamente na Bacia do Araripe, há cerca de 100 milhões de anos, é atestada pela presença de equinóides (grupo da estrela do mar, serpente do mar e lírio do mar).
Esse grupo ocorre apenas em ambiente cuja salinidade está acima de 20g de sal por litro de água, o que permite dizer, sem sombra de dúvidas, que o sertão já foi mar.
Fonte: Geopark Araripe
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