A região do Geopark Araripe possui uma das maiores jazidas
fossíliferas do período Cretáceo do Brasil e do mundo, o que nos permite
conhecer a espetacular biodiversidade que se desenvolveu entre 120 a 100
milhões de anos. A preservação desta vasta riqueza de fósseis foi propiciada
por condições singulares durante a evolução da Bacia do Araripe, possibilitando
um excepcional estado de conservação da diversidade paleobiológica.
Este registro paleontológico reflete capítulos importantes da
evolução da história da Terra e da Vida na região do Cariri.
Os fósseis da Bacia do Araripe vêm sendo estudados desde a
época do Brasil Colônia, quando, em 1800, João da Silva Feijó descreveu, em
relatório ao governador da Capitania do Ceará, a ocorrência de petrificações de
peixes e anfíbios com tecidos moles preservados, provenientes da região do
Cariri. Ao longo do século XIX, foram realizadas inúmeras expedições de
naturalistas europeus para estudar o material fossilífero da Bacia do Araripe.
Durante o século XX, os estudos de paleontologia na região foram intensificados
e começaram a mostrar a real grandeza da biodiversidade preservada nas rochas
da região. Finalmente, nas últimas décadas do século XX e início do século XXI,
os estudos científicos revelaram a importância deste patrimônio de relevância
internacional, fortalecendo os movimentos de proteção aos principais sítios de
interesse paleontológico.
Na Bacia do Araripe, os calcários laminados do membro Crato
possuem diversificados e abundantes registros de fauna e flora muito bem
preservados. O ambiente que existia há cerca de 110 milhões de anos, e que
permitiu a fossilização deste material, corresponde a um lago caracterizado por
águas calmas, com alta taxa de precipitação de carbonatos e sais, e com pouco
oxigênio.
Tais características propiciaram a fossilização dos restos
de animais e vegetais que se depositaram no fundo do lago juntamente com estes
sedimentos que, mais tarde, originaram as lâminas de calcário, conhecidas
localmente como “Pedra Cariri”.
Atualmente são conhecidas no membro Crato mais de 50
espécies de plantas, centenas de espécies de insetos, camarões, escorpiões,
aranhas, moluscos, peixes, tartarugas, crocodilianos, lagartos, pterossauros e
aves, reflexo da exuberante fauna que existia neste período. Dentro desta
diversidade de fósseis, os mais
abundantes são os insetos, os peixes (principalmente o gênero Dastilbe) e os
vegetais. Também merecem especial destaque os insetos e a flora, que representaram
um registro muito significativo para o conhecimento da evolução das angiospermas
(plantas com flores).
O membro Ipubi da Bacia do Araripe, além de apresentar os
importantes depósitos de gipsita, também preservou fósseis de peixes,
microcrustáceos, plantas, pterossauros, e até dinossauros, em suas rochas de
coloração escura. Essa coloração está
associada à presença
de material combustível, o que permitiu, no passado, estas
rochas serem utilizadas como fonte de energia para os engenhos de cana-de-açúcar.
O membro Romualdo da Bacia do Araripe registra também em
seus sedimentos os mais perfeitos fósseis do planeta. É o caso das
regionalmente conhecidas “pedras de peixe”, uma vez que a maioria dos fósseis é
de peixes. A perfeição destes fósseis estáassociada ao fato de que estes
preservam exatamente o formato do animal/vegetal fossilizado, revelando não só
a forma tridimensional, como também os tecidos moles (pele, músculos, vasos
sanguíneos, variação de coloração, etc.) e os restos de conteúdo estomacal e
parasitas.
Nesse membro, 22 espécies de peixes ósseos e cartilaginosos
(tubarões e raias) deixaram seus restos muito bem preservados, assim como os
famosos pterossauros, répteis voadores que se extinguiram junto com os
dinossauros e que deixaram um amplo registro nessas rochas.
Atualmente, são conhecidas cerca de 50 espécies de
pterossauros descritas em todo o mundo, sendo que 23 destas espécies foram
identificadas na Bacia do Araripe. Quatro espécies de dinossauros também estão
representados no membro Romualdo. Dinossauros do grupo dos raptores, como o
Santanaraptor placidus, viveram na Bacia do Araripe há aproximadamente 30
milhões de anos antes dos seus ancestrais imortalizados pelo cinema, como o
Velociraptor e o Tiranossauro.
Outras famílias de dinossauros de grandes predadores terrestres que viviam
nesta região também deixaram dois representantes fósseis nessa formação:
Irritator challengeri e o Angaturama limai. Além desses, também deixou restos
fossilizados o pequeno predador Compsongnathidae Mirischia assymetrica.
Finalmente, nas rochas formadas em ambiente sob influência marinha, foram
identificados fósseis de seis espécies de tartarugas e duas espécies de
crocodilianos.
A certeza que águas marinhas estiveram no meio do nordeste
do Brasil, mais precisamente na Bacia do Araripe, há cerca de 100 milhões de
anos, é atestada pela presença de equinóides (grupo da estrela do mar, serpente
do mar e lírio do mar). Esse grupo ocorre apenas em ambiente cuja salinidade
está acima de 20g de sal por litro de água, o que permite dizer, sem sombra de dúvidas,
que o sertão já foi mar.
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